Nasce uma paixão

IMG_1418
Vulcânica. Óleo e Acrílica sobre tela. 90X70cm.

Este blog tem acompanhado mudanças intensas em minha vida e carreira. Nasceu quando eu estava mudando de profissão pela primeira vez, saindo da área de design e iniciando meus caminhos oraculares. Achei que ele morreria nessa segunda transição profissional – pois há mais de dois anos não tenho mais realizado atendimentos e ministrado aulas de astrologia e de tarot. Após alguma reflexão, contudo, decidi que o blog seguiria vivo e acompanharia os meus passos; transformaria sua persona, assim como eu.

Apesar dos meus planos e desejos iniciais, a vida exigiu que eu experimentasse novas situações e explorasse outros horizontes – internos e externos. Fui apresentada e me apaixonei, nesse meio tempo, pela pintura, e estou me dedicando cada vez mais a ela. São aulas na Abra, pós graduação em arteterapia no IJEP,  visitas à exposições e museus, estudos práticos e teóricos do ato de pintar. Acabei me descobrindo na expressão abstrata, o que nunca foi meu objetivo inicial. Na realidade, nem havia um objetivo inicial. Ao contrário do que sempre aconteceu em minhas incursões profissionais, fui deixando o universo me conduzir e me dar as pistas do rumo que deveria seguir (graças à muita terapia, mas isso fica para outro texto).

Confesso que é bastante difícil, e mesmo às vezes desanimador, pensar em investir o tempo e a energia necessários para a construção de uma nova carreira depois dos 40. Ainda estou formatando meus projetos, e pensando como posso reunir minha sensibilidade e intuição em relação ao outro com a pintura. Mas algo me diz – o chamado do self, talvez – que devo seguir nessa direção.

O processo de pintura tem sido revelador para mim em múltiplos aspectos. Prazeroso e dolorido. Excitante em alguns aspectos, chato em outros. E muito angustiante em determinadas situações. É muito difícil encontrar o equilíbrio no processo entre se auto aperfeiçoar e ter controle, por um lado; e por outro deixar fluir, deixar-se guiar.

Tive uma experiência, recentemente, que foi bastante reveladora. Eu não planejo as minhas pinturas abstratas, elas vão acontecendo e se revelando à medida em que vou pintando. Era o meu primeiro contato com uma tela grande, e quando me dei conta, percebi que estava pintando a paixão. Sim, a temática daquele quadro seria esse sentimento intenso, avassalador, que nos toma de assalto e nos deixa obcecados.

Comecei a pintar a base do quadro adorando as cores que estavam surgindo. À medida que a pintura foi avançando, entretanto, foram surgindo algumas combinações que me deixaram insatisfeita. Logo dei um jeito de seguir adiante e ainda pensei: “ilusão minha pintar um quadro sobre paixão e achar que não iria me frustrar no processo”. A pintura seguiu por mais umas duas, três horas, no final das quais eu estava completamente extasiada com o resultado, achando tudo lindo, mostrando para vários amigos e postando fotos nas redes sociais. E assim fiquei, com o quadro ali no cavalete no meio da sala mesmo, olhando para ele o tempo todo.

Passadas umas duas horas, depois de toda a empolgação, comecei a ver todo o tipo de defeito no quadro. Aquilo que antes me encheu de contentamento estava começando a me causar estranheza, sensação de vazio, de algo inacabado. Comecei a achar o quadro tosco, com cara de artesanato. E gradualmente passei a odiar o que então eu tinha amado. Disse para mim mesma que precisava tirá-lo da minha vista até o dia seguinte, porque meu desejo era o de jogar tinta por cima de tudo e acabar naquele instante com ele.

No outro dia eu o olhei com mais calma. Pensei que não estava de todo mau, mas poderia mexer aqui e ali para dar uma equilibrada – eu quis consertar a paixão. Trabalho usando óleo e acrílica. A tinta óleo é uma delícia de trabalhar, demora a secar e você consegue alterar o que está feito. Mas a acrílica seca muito rápido. No que comecei a mexer, a pintura começou a descamar. Eu pensei: “nossa, parece minha pele” (eu sempre descamo um pouco depois de tomar sol). E quanto mais eu mexia, mais estragava, e mais eu tentava arrumar, e mais pensava que era melhor não ter mexido mas agora já era, e mais frustrada eu ficava, até que dei um jeito de deixar “aceitável”, e talvez não tão perceptível. Mas eu sabia, e sei, que tem uma “mancha” ali.

Bom, para minha salvação, no outro dia tinha sessão de terapia. Eu estava tão frustrada com o quadro que já estava questionando todo meu movimento, minha vontade de seguir em frente. E minha terapeuta me fez perceber o quão simbólica e visceral tinha sido essa experiência: eu havia vivido a “paixão” não só no próprio processo de pintura, mas também na minha relação com o quadro.

Esse quadro passou por várias modificações, não havia ainda ficado satisfeita com o resultado. Vários meses depois de iniciado, peguei a tela que havia abandonado temporariamente e finalmente cheguei em um resultado que gostei, tanto em termos estéticos como expressivos. Finalmente, o quadro ficou pronto.

Como disse antes, a paixão é avassaladora. Nos toma, nos preenche, e muitas vezes até mesmo nos cega. Achamos bonitos até os defeitos, estamos tão enlevados que deixamos passar muitas coisas que tem potencial de nos incomodar. Além disso, a paixão é um sentimento tão intenso e extremado que polariza fácil para seu inverso: a ojeriza. No processo de pintar o quadro, me apaixonei por ele; depois comecei a observá-lo melhor, ver todos aqueles defeitos que estavam ali, e a paixão se transformou em aversão. Ainda tentei “consertar”, mas o quadro descamou como a “pele”. É muito interessante o simbolismo da pele descamando num quadro sobre paixão. Se por um lado a pele indica o que está na superfície, por outro está ligada diretamente ao desejo, ao contato, à química primordial entre os corpos. “É coisa de pele”. Libido.

Da mesma forma que ocorre quando vivemos grandes paixões, elas nos levam ao êxtase e ao sofrimento. E elas deixam marcas. Meu quadro sobre a paixão tem uma cicatriz, e talvez, para olhos mais treinados, seja a primeira coisa que chame a atenção. Mas o mais provável é que essa cicatriz passe despercebida, seja imperceptível. Como acontece conosco, as pessoas podem não notar a diferença entre antes e depois de passarmos por experiências dessa natureza, assim como podem não notar a diferença entre antes de depois de eu ter tentado consertar o quadro. E as pessoas podem não notar a marca, mas a marca está lá.

Mais Shag – e os signos astrológicos!

Quando estava montando o post de ontem, tive uma lembrança remota de já ter visto também ilustrações do Shag com temática astrológica, retratando os signos.  Em uma busca rápida pela internet, consegui localizar novamente as imagens. Todas elas foram copiadas da Orbit Gallery Space. Também descobri o livro Shag’s Zodiac – offbeat adventures in astrology – que imediatamente entrou para a wishlist! Contém todas as ilustrações abaixo, e a capa também é demais!


Shag e o Tarot

Essa é para quem curte cultura pop… achei hoje navegando na internet essas imagens do artista contemporâneo Shag, o qual já conhecia e curtia por razões diversas. Essas ilustrações são perfeitas, porque além do traço e das cores, que adoro, contém gatos… e também Tarot! Segue uma imagem extra, com bola de cristal. Imagens da galeria do autor, Last Days of Magic.

Tarot Twins

 

Burning boyfriends
The Crystal Ball

Iemanjá, Nossa Senhora dos Navegantes

Sempre me pergunto por que a imagem mais popular de Iemanjá, uma orixá das religiões afro, é a de uma mulher BRANCA num país de maioria negra e mestiça. Vejamos essa outra representação mais de acordo com suas origens:

É notável a diferença na caracterização. Agora vamos comparar a primeira imagem com essa aqui abaixo, da Nossa Senhora dos Navegantes:


A primeira representação parece ser um “mix” entre a Iemanjá original de fábrica e sua correspondente católica no sincretismo! Une a sensualidade da africana, porém envolta em véus  azuis e de pele clara, como a católica. O filá é substituído por uma tiara com uma estrela, fazendo um “link” com a auréola de estrelas da Nossa Senhora dos Navegantes. Que tal?

A propósito, pesquisando sobre Nossa Senhora dos Navegantes, achei esse site com uma listagem de diversas Nossas Senhoras. O catolicismo se define com uma religião monoteísta, dizendo haver um único Deus. Agora, qual é a diferença entre cultuar uma infinidade de Nossas Senhoras e Santos com as religiões politeístas? Na prática, nenhuma, né? Porque eles até podem não ser considerados deuses, mas são reverenciados como entidades com poderes sobrenaturais.  O que, novamente, na prática, não difere muito do conceito de “deus’ em alguns sistemas mitológicos ou religiosos como o Grego, Romano, Mesopotâmico, Nórdico, Africano etc a não ser pelo fato de que a imortalidade foi substituída pela eternidade.  Alguns apontarão também o panteão egípcio, mas faço uma ressalva: o povo egípcio acreditava em um único deus, e os NETERU eram na verdade aspectos dessa divindade, fossem eles bons ou maus; mas tudo era representação da mesma fonte. E essas faces, ou aspectos, foram erroneamente traduzidas como “deuses”.

Na prática, através do sincretismo, o catolicismo conseguiu abocanhar diversas religiões e sistemas mitológicos no mundo! Você vai encontrar um santo para cada milagre que você precise na sua vida! Exatamente como nas religiões pagãs!

Mais gatos do zodíaco

Há alguns dias atrás postei uma coleção de imagens de gatos e signos. Bem, acabei encontrando uma outra coleção com o mesmo tema, dessa vez nos meus arquivos do computador (nem lembrava que tinha). O estilo é diferente, cartunesco, desenhados por Evelyne Nicod. Apesar de as imagens conterem assinaturas digitais, atrapalhando um pouco a visualização, decidi compartilhá-las aqui.

Upgrade do Macaco

No post de ontem, mencionei que não havia conseguido encontrar o manifesto Upgrade do Macaco na internet. Hoje o Pilla me enviou por e-mail o link do site Aural, de Emerson Pingarilho, autor do texto. Leia aqui!

Emerson Pingarilho - da série A Faca da Disciplina
Emerson Pingarilho - da série A Faca da Disciplina

A Arte Espiritual de Guilherme Pilla

Guilherme Pilla – Cristo

Existem artistas que marcam gerações. Guilherme Pilla, é, sem dúvida, um deles. O traço revolucionário de Pilla inspirou diversos outros artistas contemporâneos, e ouso afirmar que ele deu início a todo um movimento artístico. Como Picasso deu origem ao Cubismo – mas não foi seu único representante – outros artistas beberam em sua influência e desenvolveram obras com traço e temáticas próprias.  Junto com Emerson Pingarilho, Bruno 9li e outros desenhistas incríveis, Pilla foi um dos fundadores do Coletivo artístico Upgrade do Macaco – que inclusive conta com um manifesto, o qual tentei linkar aqui mas misteriosamente sumiu da internet.

A temática principal de Pilla está ancorada nos mundos místicos e espirituais. Ele não processa essa vivência apenas de forma intelectual, mas mergulha e se entrega totalmente a esse universo em suas criações. Isso faz com que ele, em determinados momentos,  necessite se afastar de sua produção artística, às vezes por anos, para retomar seu centro e não ser tragado pela própria obra. Porque o que ele faz não é apenas arte, é magia, e toda a magia pode ser perigosa – principalmente para o próprio Mago. Felizmente, Pilla está em uma fase em que voltou a produzir, e para minha surpresa  me enviou alguns de seus novos trabalhos por e-mail, os quais compartilho aqui:

Guilherme Pilla – Nsa Sra
Guilherme Pilla – Durer

Em tempo, a inspiração de Pilla é ecumênica: as obras de conotação místico-religiosa não abordam apenas elementos do cristianismo, mas de diversas outra fontes, com destaque para o budismo.

Guilherme Pilla – eternal sunshine of the soul

Para conhecer outras obras, clique aqui e acesse a galeria com novos trabalhos do Pilla, ainda em sua fase inicial.