Revista Bons Fluidos e Netuno em Peixes

Fui convidada pela jornalista e astróloga Liége Cospstein a participar de uma matéria para a Revista Bons Fluidos desse mês, ao lado dos astrólogos Oscar Quiroga e Marcos Augusto Ramos. Escrevi um texto sobre Netuno em Peixes de onde foram “pescadas” uma ou duas ideias e utilizadas na matéria.

Este texto não tem a pretensão de ser completo ou explorar o posicionamento em todos os seus meandros. Na realidade, procurei abordar questões que não vi publicadas em muitos blogs e outras mídias. Desta forma, o texto  vale mais como uma reflexão e um recorte a respeito deste aspecto, entre muitas outras interpretações possíveis sobre o assunto.

Sobre Netuno em Peixes

Netuno é um planeta ligado à transcendência, o que pode se manifestar de forma positiva ou negativa, dependendo da natureza do indivíduo. No signo de Peixes (regido por este planeta), a natureza diluidora netuniana fica intensificada. Assim, a nível coletivo, pode se desenvolver uma necessidade de redenção, de comunhão ou de conexão com outras realidades que transcendam a pessoal. Entretanto, essa mensagem não chega de forma clara, pois os caminhos netunianos são nebulosos e incertos. Desta forma, sintomas psíquicos podem ser desenvolvidos através desse desalinhamento, já que Peixes é um signo ligado ao inconsciente.

Netuno em Peixes desintegra e desconstitui realidades. Assim, o senso de objetividade e os propósitos ficam cada vez mais confusos, despertando questionamentos a respeito do que é real e qual o sentido da vida. A falta de sentido, assim como a natureza insidiosa netuniana – onde a diluição e a inação são ideias extremamente sedutoras – podem levar à depressão. Pode-se notar o aumento crescente de casos de ansiedade (angústia) e depressão no coletivo nos dias atuais. Quando isso é amplificado e extremado, desenvolve-se a Síndrome do Pânico. Essa simbologia é reforçada pelo fato de que Netuno é relacionado ao psiquismo, e também está ligado a processos químicos. É o desequilíbrio de certas substâncias no organismo, como a dopamina e a serotonina, que fisicamente desencadeia essas doenças.

Outros sintomas depressivos que também estão ligados ao universo netuniano são: sono em excesso, tonturas e letargia. O sono pode tanto estar conectado à necessidade de fuga da realidade quanto à conexão com uma dimensão paralela, onde tudo é mais fluido e menos prosaico, através do mundo dos sonhos. O aumento do consumo de álcool e drogas também pode estar relacionado a esses aspectos.

Netuno em Peixes amplia a sensibilidade e e abre as portas da percepção. Como tanto o planeta como o signo estão relacionados à imagética e à fantasia, isso pode resultar em um aumento de visões, premonições e outros fenômemos psíquicos naqueles mais suscetíveis, mas também em delírios e alucinações no caso de personalidades desequilibradas.

A espiritualidade, os tratamentos psíquicos e os energéticos ganham força de atuação nesse período de manifestações cada vez mais evidentes das energias sutis. Peixes é um signo mutável de água, o que temos aí é um aprendizado a nível emocional. Mergulhar na própria psique é fundamental, de modo a lidar com seus fantasmas. Transcender a si mesmo e às suas limitações e pequenezas é o ponto de mutação para tornar sua própria vida mais encantada e encantadora.

 

A Dança do Planetas

O que proponho aqui é uma abordagem astrológica correspondente à ordem das orbes dos planetas a partir do sol, estudando como cada planeta deriva, simbolicamente, da manifestação do planeta anterior. Este artigo irá analisar o significado dos planetas do nosso mapa natal na mesma seqüência em que estes corpos se encontram no sistema solar, e não tem a pretensão de esgotar a simbologia dos mesmos. Não levarei em consideração o planeta Terra neste estudo, pois na astrologia a Terra é o referencial, e, para simplificar, será utilizada a mesma denominação geral (planeta) também para o Sol e para a Lua.

Assim como no sistema solar, em nosso mapa o SOL representa o centro. Em torno do Sol giram todos os demais planetas e corpos do sistema. O sol fornece luz e calor, o sol no nosso mapa também representa o tipo de luz e calor que emitimos. É a qualidade fundamental em torno da qual “giram” nossos planetas – nossa identidade básica. A forma como nossa luz e calor serão manifestados em cada instância do nosso ser é representada e matizada pela posição por signo e casa dos demais planetas do mapa.

MERCÚRIO, primeiro planeta do sistema solar, é o que mais rapidamente se desloca em torno do Sol. Em um mapa natal, Mercúrio simboliza movimento, além de nossa inteligência e capacidade de comunicação.  Se conseguimos nos comunicar, então temos a aptidão básica para nos relacionar. Chegamos então na VÊNUS. Ao nos relacionarmos (com as pessoas e com o mundo), despertamos o nosso desejo, outra energia associada a este planeta. O querer vem de Vênus. Se desejamos algo, alguém ou alguma situação, atribuímos um valor a isso. Ao darmos valor, manifestamos nossa afetividade  – outros dois conceitos representados por este planeta. Vênus também fala da beleza e do senso estético.

Todos estes aspectos do relacionamento ativam o nosso emocional, simbolizado pela LUA. É através da interação com as circunstâncias e sobretudo com outros seres humanos que o todo o nosso conteúdo emocional é ativado. Ele traz consigo toda a carga dos nossos automatismos, nossas reações. A Lua é o corpo celeste que se desloca mais rápido em um mapa natal, representando a inconstância de nossos estados emocionais. Não podemos esquecer que é o corpo celeste que se encontra mais próximo da Terra, ou seja: é nosso referencial mais imediato e primordial. A Lua também fala de tudo o que é familiar, e de nossos padrões de repetição.

Bem, chegamos a um ponto em que o ser humano tem uma mente que pensa, uma capacidade de comunicar-se, conseguindo assim estabelecer relações com outros indivíduos e daí despertar desejos que ativam o seu conteúdo emocional. O próximo estágio é a ação. MARTE, no nosso mapa, fala da maneira como agimos. Muitas vezes, para conseguirmos realizar nossos desejos, seja lá qual a sua natureza, precisamos lutar. Logo, Marte também vem falar de guerras  e da nossa agressividade. Do ponto de vista sexual, o relacionamento vai gerar um desejo (Vênus). O conteúdo emocional (Lua) vai dizer se você banca ou não este desejo. Se você o bancar, o próximo passo será agir para realizá-lo (Marte). Vênus é a capacidade de envolver e seduzir, Marte é forma de conquistar. Vênus é a sensualidade, Marte a sexualidade.

Aqui concluímos os planetas conhecidos como pessoais. Os próximos planetas são considerados como sociais, por terem uma órbita consideravelmente mais lenta em torno do sol que os anteriores. O primeiro destes planetas é JÚPITER. Ele vem falar das escolhas do ser humano. Muito bem, você agiu. Mas a manutenção ou continuidade desta ação está diretamente relacionada às milhares de escolhas que você irá encontrar no decorrer do processo. Sem júpiter, marte é fogo de palha. Ele deseja, age, consegue ou não e era isso. Para escolher ou avaliar o resultado de uma ação, você precisa julgar. Esse juízo de valores que você mesmo faz, o quanto você se permite, também está relacionado a este planeta. Se fizer as escolhas corretas, você irá conquistar (Marte) e desfrutar (Júpiter). Júpiter também representa o otimismo, qualidade fundamental para levar uma ação até o fim. Se você age e sacia o seu desejo, você se expande. Júpiter é o planeta da expansão. Relacionado ao conceito de expansão, temos também o exagero.

Uma expansão infinita acarretaria em uma “explosão” ou “dissolução” do ser, e acabaríamos muito distantes do nosso verdadeiro propósito ou centro de consciência: o sol. Para impor limites e compor uma estrutura, chega SATURNO. Este planeta fala de nossas dificuldades e aponta uma constante necessidade da aprimoramento na área do mapa onde ele se encontra. É onde o indivíduo precisa constantemente se superar. Por representar algo tão importante, ele aponta justamente para o que nos desperta medo. Saturno dá uma “segurada na onda” para que possamos sempre estar conscienciosos do nosso tendão de aquiles, e que enquanto não aprendermos a “fortalecer” esse ponto, a realização dos nossos desejos continuará batendo no vazio. Saturno fala do limite, nosso maior limitador é o tempo. Por isso saturno também é conhecido como um planeta cármico: ele fala das principais questões que temos a resgatar, ele fala do tempo: a nossa vida acontece dentro de um ínterim de tempo. Saturno dá a prudência e a consciência de direcionamento, de realizarmos algo que seja duradouro. Após a avaliação de júpiter caimos no saturno: podemos estar satisfeitos com aquilo que conquistamos, mas sempre queremos algo mais. E é esse algo mais que movimenta o ser humano em direção a sua evolução ou ambição (em vários casos, a ambos). Saturno pesa. É o peso da responsabilidade das nossas escolhas. Só através desta responsabilidade podemos ser livres.

Passamos então aos chamados planetas coletivos. A liberdade é simbolizada por URANO, o próximo planeta do sistema solar. No simbolismo astrológico, Urano “vibra” freneticamente. É associado com eletricidade. Onde ele se encontra no mapa há uma quebra, um despertar, é a área onde acontecem as rupturas com os padrões. Podemos dizer que o urano é uma espécie estado catártico. A energia ficou tão tão reprimida e comprimida em saturno, que quando ela “sai”, sai a mil, “ricocheteando”. É a vibração necesária para não se deixar derrotar pelo pessimismo de saturno, que tantas vezes pesa em nossas vidas. Urano é a reação ao saturno. Pois, uma vez que eu já superei os meus limites, já estou pronto para o novo, e é disso que o Urano vem falar. O saturno é o limite, urano é a quebra. O saturno é a âncora, o urano é a força empenhada em içar a âncora para deixar o navio partir rumo a mares nunca antes navegados. Por vibrar tão intensamente e por buscar o novo, urano é associado também ao inesperado e a acidentes – tudo o que é repentino é de natureza uraniana. No urano já temos consciência de individuação.

Essa vibração toda de Urano acaba resultando numa dissolução – como se ele vibrasse tão rapidamente que no ponto máximo de sua vibração ele se dissolvesse. Chegamos então a NETUNO. Netuno está relacionado à dissolução do ego, só através dela conhecemos a entrega. Por isso, este planeta está ligado aos conceitos de espiritualidade e de amor incondicional. É vivenciando o Netuno que você tem condições de diluir-se no todo e  comungar com algo maior que você mesmo. Netuno é a energia do além. Ele fala também de alcançar estados alterados de consciência, acessar prismas de outras realidades que não a cotidiana – assim Netuno trata de transcendência. Quando você está apaixonado, passa a habitar uma espécie de “universo paralelo”. É nestes estados e universos paralelos que estamos em contato com Netuno. A entrega e a fuga da realidade cotidiana podem ser encontradas também em outros portais netunianos: a espiritualidade, as artes em geral e principalmente a música, o universo onírico ou mesmo as drogas.  Para chegar a manifestação positiva do Netuno, é preciso ter vivido bem o Saturno, pois ele nos dá a base para que não se perca o contato com a realidade do aqui agora. Como nem sempre estamos em sintonia fina com a percepção mais sutil, Netuno pode levar a enganos e ilusões.

Através das experiências vivenciadas no Netuno, temos condições de acessar o que temos de mais profundo e sombrio em nossa alma, representado pelo planeta PLUTÃO. Ao acessar a área onde este planeta está localizado no mapa natal, temos a sensação de que iremos trazer à tona o que há de mais “podre” dentro de nós, nos expondo demais. E que se fizermos isso, não seremos amados. Por isso, temos um certo bloqueio em relação a esta área, como um vulcão prestes a entrar em erupção. É no Plutão que está o grande desafio e potencial de transformação de nossas vidas, pois aqui é que ocorrem os questionamentos que nos levarão a entrar em contato com nosso lado obscuro, conhecê-lo e transmutá-lo. É como mexer numa colméia: podemos sair machucados, mas é onde encontraremos o mel. Tais atos e questionamentos só poderão ocorrer de forma construtiva se vivenciarmos os aspectos positivos de Netuno, caso contrário poderão ter um efeito extremamente destrutivo/corrosivo sobre si mesmo e/ou sobre o meio. Plutão trata das sombras e profundezas, logo ele também fala sobre mistérios  e exerce uma atração magnética sobre a natureza humana. O maior mistério e a maior transformação do ser humano é a morte. Plutão trata da própria obcessão de não pairar na superfície: ele investiga até conhecer o verdadeiro âmago. Quando atingimos o âmago de algo, existe a possibilidade de fusão,  e a fusão mais completa experienciada pelo ser humano ocorre através do sexo.  Por todas essas características, é no plutão que alcançamos nosso verdadeiro poder.

O ser humano vive esta dança dos planetas diariamente. De uma forma ou de outra, sempre acabamos acessando as energias representadas por cada um dos planetas. A questão é que se estivermos conscientes deste processo, estaremos acessando as polaridades positivas destas energias, e elas trabalharão a nosso favor. Caso contrário, nos sentiremos manipulados, coagidos e adotaremos uma atitude fatalista diante das circunstâncias e fatos da vida.

Ponyo, Peixes e Netuno

Assisti há alguns dias ao fofíssimo anime Ponyo (崖の上のポニョ Gake no Ue no Ponyo), de Hayao Miyazaki, e não pude deixar de ficar surpresa – e encantada – com as diversas características simbólicas Netunianas e Piscianas que se destacam na história.


Para começar, Ponyo era uma espécie de Peixe Dourado (Peixes), com rosto humano, filha de um feiticeiro que morava no fundo do mar (Netuno) e uma deusa aquática da misericórdia (Netuno, Peixes). Ponyo morava no fundo do mar com um cardume de irmãs menores, todas com o mesmo aspecto (Peixes).

Ponyo decide conhecer a superfície, onde enfrenta alguns perigos e é resgatada e se apaixona (Peixes) por um garotinho de cinco anos, Sousuke, que também se apaixona por ela, ainda em forma de peixinho. Ponyo é levada de volta às profundezas do mar por seu pai, mas, desobedecendo-o, decide voltar para encontrar Sousuke. Sua paixão é tão forte que ela consegue se transformar em uma menina humana! Auxiliada (Peixes) pelo cardume de suas irmãs, dá um jeito de fugir (Peixes, Netuno), derrubando um caldeirão de poção mágica (Netuno, Peixes) e  provocando com isso um Tsunami! Netuno total! A força avassaladora das emoções de uma garotinha de cinco anos trazendo ondas gigantes…

A cena onde ela emerge é incrível, ela corre sobre as ondas – que na verdade mesclam-se e fundem-se em peixes gigantescos  (Peixes, Netuno) acompanhando o carro onde se encontra Sousuke.

Eles finalmente se encontram,  e se reconhecem naturalmente, como se fosse a coisa mais comum do mundo um peixe se transformar em uma garotinha (Netuno). Toda cidade fica submersa em função do Tsunami, as paisagens são totalmente aquáticas, e as pessoas da cidade se unem em um mutirão (Peixes) para ajudar os desabrigados.

Mas Ponyo não pode ficar na superfície para sempre, pois com seus poderes mágicos causaria um desequlíbrio a ponto de acabar com o Planeta Terra. Para morar com seu amigo, ela teria que abrir mão de sua magia. A Deusa – Mãe de Ponyo, então pergunta a Sousuke se ele a ama, mesmo sabendo que ela era um peixe, ao que o menino responde que “Sempre amará Ponyo, não importa se ela seja peixe, humana ou meio termo”! Mais Peixes/ Netuno, impossível!

Em uma relação menos óbvia, mas totalmente Netuniana: uma das características mais marcantes da personagem é que de uma hora para outra ela se cansava e sem mais nem menos pegava no sono, dormindo durante longas horas.

Não é incrível? É como se Miyazaki conhecesse astrologia “ocidental”… E eu, que nasci sob a lua cheia de peixes, adorei!